domingo, 21 de abril de 2013

A articulação entre teoria e prática: subalternidade e autonomia


A trajetória histórica do Serviço Social vem se constituindo na “eterna” dificuldade de consolidar na prática a teoria, cuja relação direta está posta na subalternidade e na autonomia.
A pergunta é sempre a mesma: como realizar esta articulação no concreto?
Esta questão também vem se constituindo em nossa permanente angústia.
No entanto, mais recentemente, ao nos debruçarmos com mais profundidade sobre o tema, temos nos deparado com a origem da profissão. Mais precisamente, vamos nos dando conta de que para superarmos esta dicotomia é necessário, antes de tudo, nos apropriarmos da gênese da profissão e aceitarmos a identidade atribuída no início de sua origem, em relação à desigualdade social posta na sociedade capitalista brasileira. Esta tomada de consciência é tão necessária como o ar que respiramos, para podermos superá-la, transformando a subalternidade em autonomia profissional na garantia de direitos.
A profissão nasceu com uma identidade atribuída, logo, em seus primórdios, foi se constituindo em um corpo, cuja cabeça já pertencia a outro corpo: o capitalismo.

Isto implica fundamentalmente a tomada de consciência da inquestionável origem do Serviço Social no âmago do projeto político da burguesia capitalista emergente, tendo sido criado como uma estratégia de intervenção amortecedora no tecido social, com vistas a evitar um conflito direto com o proletariado (SEVERINO, apud MARTINELLI, 1989, p.1).


Portanto, seu caminho e seu objeto já estavam determinados, - logo, a subalternidade constituída em sua própria origem. Os assistentes sociais, na época, só deveriam agir a partir da concepção de sociedade vigente e consolidada pelo pensamento hegemônico da classe dominante. Portanto, seus “tutores” já tinham definido a linha mestra de sua intervenção na realidade.
“Essa aliança de berço cria, sem dúvida, uma complicada situação para o Serviço Social quando se propõe, através de seus agentes críticos, a questionar o sentido de sua intervenção na sociedade” (SEVERINO, apud MARTINELLI, 1989, p.1).
Portanto, quando a categoria buscou a articulação entre a teoria e a prática, ao longo das décadas de 1970 a 1980, a contradição se explicitou e o caminho levou, ao mesmo tempo, à ruptura teórica e ao tensionamento da prática no concreto.

A contradição básica entre alienação e crítica, entre prática conservadora e prática política, revolucionária, se não totalmente resolvida, ao longo do tempo tornara-se uma contradição consciente e assumida. A própria identidade, no curso desse processo dialético, deixou de ser encarada como algo estático, imóvel e definitivo. Posta em seu lugar no cerne do movimento, envolvida por múltiplas forças contraditórias, a identidade começou a ganhar uma nova dimensão de força viva, de movimento permanente, de construção incessante (MARTINELLI, 1989, P.133).


Ainda não se conseguiu totalmente romper na prática com a identidade atribuída, com a subalternidade, porque é necessário, antes de tudo, realizar “uma ruptura crucial – a ruptura da alienação – o que por sua vez demanda o abandono da autoconsciência metafísica, essa “relação infinita do espírito consigo mesmo” (Hegel, 1941, &413:238), essa “idealidade abstrata e formal” (1941, &413:238) (MARTINELLI, 1989, p. 123-124), para, então, nos apropriarmos de uma metodologia que está para ser.
No entanto, já adquirimos, nestes 70 anos aproximadamente de existência no Brasil, profundidade nos fundamentos teórico-metodológicos, éticos-políticos e técnico-operativos para avançarmos com qualidade, compromisso e responsabilidade na consolidação do Projeto Ético-Político da profissão e nos posicionarmos na defesa de nossa construção teórica tão arduamente conquistada e ameaçada pelo conservadorismo que está emergindo nos mais diferentes espaços profissionais.

Logo, é no meio da travessia que o Serviço Social se revela cada vez mais claramente como uma instituição componente da organização da sociedade. Assim, perguntar por sua identidade (...) significa perguntar por seu papel no processo de produção de novas relações sociais e de transformação da sociedade, tendo presente que cada momento tem em si a força do inaugural, o impulso criador do novo! (MARTINELLI, 1989, p.144).



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